Hoje vamos passear por São Paulo no ano de 1922, na Semana de Arte Moderna!

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Di Cavalcanti, Catálogo da exposição

Viva a independência artística do Brasil!

O ano de 1922 não era um ano qualquer, o país comemorava o primeiro centenário da Independência e os jovens modernistas desejavam redescobrir o Brasil, libertando-o dos padrões estrangeiros. 

A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, na verdade aconteceu durante apenas três dias, 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal em São Paulo. Cada dia da semana foi dedicado a um tema: respectivamente, pintura e escultura, poesia e literatura, e música.

Di Cavalcanti "Cinco Moças de Guaratinguetá"

Foi uma época era cheia de turbulências políticas, sociais, econômicas e culturais. As novas vanguardas estéticas e uma linguagem sem regras, espantavam o mundo.

ATENÇÃO! vanguarda vem do francês "avant-gard" que quer dizer, aquilo que está à frente.

A Semana de Arte Moderna não foi totalmente bem-vinda na época, foi alvo de críticas e repúdio.

 
Tarsila do Amaral "Operários"

Historicamente falando, o capitalismo crescia no Brasil, era tempo das oligarquias cafeeiras, a Republica Velha dos grandes senhores de café, e a política do café-com-leite mandava no pedaço com sua mentalidade tradicional, formando a República e a elite paulista, que era influenciada pelos padrões estéticos europeus.

Anita Malfatti "Tropical"

A Semana de Arte Moderna renovou a linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criativa e na quebra com o passado. A arte passou da vanguarda, para o moderno.

O evento marcou transformações nos meios artísticos: a poesia que antes era só escrita, foi apresentada através da declamação; a música por meio de concertos, antes eram cantores sem acompanhamento de orquestras; e a arte exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura, com desenhos arrojados e modernos.

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Vicente do Rego "Vendedor de Frutas"

QUEM ERA QUEM

Tarsila do Amaral: Seu pai herdou uma fortuna e diversas fazendas do interior de São Paulo, onde Tarsila e seus sete irmãos cresceram. Desde criança foi educada nos costumes da época, aprendeu a ler, escrever, bordar e falar francês. Sua mãe passava horas ao piano e contando histórias dos romances, e seu pai recitava versos em francês, retirados de sua biblioteca. Gente fina!

Tarsila estudou em Barcelona onde começou a se interessar por arte. Junto a Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia formava o Grupo dos Cinco, que se reunia para discutir arte e que idealizou e organizou a Semana de Arte Moderna. Tarsila foi casada duas vezes, seu segundo casamento foi com Oswald de Andrade, com quem rompeu após saber de sua amante, a escritora Pagu. A exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana eram sua principal inspiração.

 
"Auto-retrato"

"Abaporu" A obra mais conhecida de Tarsila foi vendida em um leilão para o argentino Eduardo Constantini por 1,5 milhões de dólores.
É considerada a pintura mais cara feita por um artista brasileiro

Di Cavalcante: Quando seu pai morreu em 1914, o jovem Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo obriga-se a trabalhar fazendo ilustrações para a revista"Fon-Fon". Foi estudar em São Paulo, ingressando na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Seguiu fazendo ilustrações até ser reconhecido por grandes nomes da pintura e começar a expor em outros países. Ficou famoso por suas mulatas, e pelo ar descontraído e alegre de seus quadros. Foi o pintor das rodas de samba, das gafieiras das mulatas e do carnaval.


Capa da revista Fon-Fon "Colombina"


 
"Murais"

Anita Malfatti: Segunda filha do casal Samuel Malfatti e de Betty Krug, Anita nasceu com atrofia no braço e na mão direita, foi à Itália na esperança de tratar o defeito, mas nada adiantou, Anita carregou a deficiência por toda a vida. Aos 13 anos, sem saber que rumo dar a vida decidiu se matar, deitou nos trilhos de trem e esperou pela desgraça. Durante a espera aterrorizante Anita teve um delírio "E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura." e assim fez.

 
"O Japonês"

"A Boba"

Victor Brecheret: Ainda jovem, o italo-brasileiro Vitorio Brecheret frequentou as aulas de entalhe em gesso e mármore do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde mais tarde viria a utilizar o ateliê e seus aprendizes para moldar suas obras. Considerado um dos mais importantes escultores do país, Brecheret é responsável pela introdução do modernismo na escultura brasileira.

Ficheiro:Monumento às Bandeiras 01.jpg
"Monumento às Bandeiras"

Ficheiro:Victor Brecheret - Graça 01.JPG
"Graça"

CURIOSIDADES!

Vamos brincar de máquina do tempo.
Fechem os olhos e transportem-se... .  .   .    .

Os homens estão usando terno, gravata e chapéu, as mulheres muito elegantes de vestido solto e cabelos curtos, é noite de outono em São Paulo, vocês estão entrando no saguão do Teatro Municipal, há uma grande concentração de pessoas ali, são intelectuais, pintores, escritores, músicos, vocês estão visitando a Semana de Arte Moderna...


Da esquerda para a direita: Brecheret, Di Cavalcanti, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Helios Seelinger



Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.


AGENDA 1922:
13 de fevereiro (Segunda-feira) 
Casa cheia, abertura oficial do evento. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal de São Paulo, várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e repúdio por parte do público. O espetáculo tem início com a confusa conferência de Graça Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte Moderna". Tudo correu em certa calma.
Victor Brecheret "A luta dos índios Kalapalos"

Tarsila do Amaral "Antropofagia"

15 de fevereiro (Quarta-feira)
Guiomar Novais era para ser a grande atração da noite. Contra a vontade dos demais artistas modernistas, aproveitou um intervalo do espetáculo para tocar alguns clássicos consagrados, iniciativa aplaudida pelo público. Mas a "atração" dessa noite foi a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta os novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos…) que se alternam e confundem com aplausos. Quando Ronald de Carvalho lê o poema intitulado "Os Sapos" de Manuel Bandeira, (poema criticando abertamente o parnasianismo e seus adeptos) o público faz coro atrapalhando a leitura do texto. A noite acaba em confusão. Ronald teve de declamar o poema pois Bandeira estava impedido de fazê-lo por causa de uma crise de tuberculose.

Os Sapos - Manuel Bandeira
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...


17 de fevereiro (Sexta-feira)
O dia mais tranquilo da semana, apresentações musicais de Villa-Lobos, com participação de vários músicos. O público em número reduzido, portava-se com mais respeito, até que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com sapato, e outro com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado...

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Heitor Villa-Lobos


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No próximo post de História da Arte vamos conhecer a Arte Pós-Moderna!



Até mais!

Imagens: Reprodução

Fonte: Wikipédia, Pitoresco, Portal São Francisco e Guia dos Curiosos de Marcelo Duarte.