quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Origem das cores

Pigmentos naturais, tais como ocres e óxidos de ferro têm sido utilizados como corantes, desde os tempos pré-históricos. Arqueólogos descobriram evidências de que os primeiros humanos costumavam pintar para fins estéticos, decorando o próprio corpo. Rudimentares pigmentos de tintas e equipamento para trituração, foram encontrados em cavernas as margens do Rio Twin, na Zâmbia e acredita-se que tenham entre 350.000 e 400.000 anos.

Antes da Revolução Industrial, a gama de cores disponíveis para a arte e uso decorativo era tecnicamente limitada. A maioria dos pigmentos utilizados era derivado da terra, de alguns minerais ou de origem biológica. Pigmentos a partir de fontes incomuns, tais como materiais botânicos, resíduos animais, insetos e moluscos foram colhidos e comercializadas em longas distâncias. Algumas cores foram onerosas ou impossíveis de se misturar com a gama de pigmentos que estavam disponíveis. Como exemplo, o azul e o roxo passaram a ser associados a realeza por causa da dificuldade e custo em se conseguir estas cores.



Caramujo da espécie Murex brandaris
Caramujo da espécie Murex brandaris

Pigmentos biológicos eram muitas vezes difíceis de adquirir, e os detalhes de sua produção foram mantidos em segredo pelos fabricantes durante muitos anos. Tyrian Purple (conhecido também como Royal Purple) era um pigmento conseguido a partir do muco de uma uma espécies de caramujo, o Murex brandaris. A produção de Tyrian Purple para uso como tintura de tecido começou em 1200 a.C, pelos Fenícios, e foi continuada pelos Gregos e Romanos até 1453 d.C, com a queda de Constantinopla. O pigmento era caro e complexo para produzir, e itens coloridos com ele tornaram-se associados com o poder e a riqueza.


Gema de Lapis-Lazuli

Gema de Lapis-Lazuli



Pigmentos minerais também foram negociados a longas distâncias. A única maneira de alcançar um rico azul profundo era usando uma pedra semi-preciosa, lapis-lazuli, para produzir um pigmento conhecido como ultramarino, e as melhores fontes de lapis lazuli eram remotas e distantes.

O pintor flamenco Jan Van Eyck, trabalhando no século 15, não incluia normalmente o azul em suas pinturas. Pintar um retrato com o azul ultramarino era considerado um grande luxo. Se o cliente que encomendava a obra queria azul, era obrigado a pagar extra. Quando Van Eyck usada lapis-lazuli, nunca misturava com outras cores. Ao contrário, ele aplicava a sua forma pura, quase como um esmalte decorativo. O preço proibitivo de lápis-lazuli forçava os artistas a procurarem pigmentos que pudesse substituir e fossem menos caros, tanto mineral ( azurita , smalt ) ou biológicos (índigo ).

Os Espanhóis, com a conquista de terras no Novo Mundo no século 16, introduziram novos pigmentos e cores para os povos de ambos os lados do Atlântico. Carmin, um corante e pigmento derivado de um inseto parasita encontrado na América Central e América do Sul , alcançou status de grande valor na Europa. Produzido a partir de insetos Cochonilha, secos e triturados, o carmim poderia ser utilizado na tintura de tecidos, pintura corporal, ou em forma sólida, para quase todos os tipos de tintas e cosméticos .



Milagre do Escravo, de Tintoretto (1518-1594). Uso do Carmin para representar cores dramáticas.
Milagre do Escravo, de Tintoretto (1518-1594). Uso do Carmin para representar cores dramáticas.

Os nativos do Peru já conheciam como produzir o carmim a partir da Cochonilha, como corante para tecidos, pelo menos desde 700 d.C, mas os europeus nunca tinham visto a cor antes. Quando os espanhóis invadiram o Império Asteca no que é hoje o México, eles foram rápidos em explorar a cor para novas oportunidades comerciais. Carmin se tornou a segunda mais valiosa mercadoria da região, próxima à exportação de prata. Pigmentos produzidos a partir do inseto Cochonilha, como exemplo, serviram para colorir os tecidos das vestes de cardeais católicos e os uniformes dos soldados ingleses, as "Casacas Vermelhas". A verdadeira fonte do pigmento, um inseto, foi mantida em segredo até o século 18, quando os biólogos a descobriram.

Enquanto o Carmin foi muito popular na Europa, manteve-se a cor azul exclusivamente associada à riqueza e status. No século 17, o mestre holandês Johannes Vermeer, muitas vezes fez uso abundante de lápis-lazúli , juntamente com Carmin e Amarelo indiano , em suas pinturas vibrantes, destinadas a decorar os mais luxuosos palácios.

Ficheiro:Vermeer - The Milkmaid.jpg
A leiteira, Johannes Vermeer (1632-1675)

Outras cores importantes:

Amarelo Indiano: extrato orgânico preparado originalmente na área de Bengal na Índia derivado da urina de vacas alimentadas exclusivamente de folhas de mangueira. Era vendida em extrato seco no formato de bolas com aparência externa marrom mas com interior de cor amarelo-limão brilhante. Hoje, essa prática é proibida por lei, e o que vemos hoje é um substituto sintético com qualidade e dirabilidade similar.

Indigo: Tinta azul de uso conhecido como tintura no Egito antigo, e muito mais tarde usado com pigmento usado para pintar escudos de guerra dos soldados romanos. Mencionado em registros históricos datando do século 13 em transações comerciais da européia com o Oriente (um dos produtos de importação mais valorizados da época eram pigmentos). Utilizado na pintura italiana pré-renascentista, tendo sido amplamente utilizada durante e após a renascença. No Oriente, indigo era cultivado em toda a Índia e na China e utilizado principalmente para tingimento de tecidos e também na pintura de painéis na China e na Ásia Central.

O indigo é extraído da planta "Indigofera" amplamente plantada na Índia e comercializada pelos europeus desde o séc. 14. É um dos únicos azuis derivados de plantas, sendo que quase todos os pigmentos azuis derivam de metais ou pedras.

Verdigris: O nome é uma contração de "vert de grèce", verde grego. Cor antiga, com preparo registrado pelos romanos. A cor se forma em chapas de cobre expostas aos vapores de folhas de parreira fermentadas, ou lacradas em barris sobre vinagre. Depois da oxidação das placas de cobre, raspa-se o substrato e assim é obtido o pigmento puro. Cor amplamente usado em iluminarias medievais, mas devido à sua natureza metálica instável, pode se tornar marrom escuro com a exposição à luz natural, ou pode "comer" o papel onde foi colocada, deixando buracos em diversos manuscritos medievais.

Tyrian Purple: Um dos mais importantes e mais caros pigmentos naturais da antiguidade. Era preparado com tintas de vários moluscos incluindo murex brandaris e purpura haemostoma encontrados na costa do Mediterrâneo e do Atlântico e nas Ilhas Britânicas. Quantidades enormes destes moluscos eram usados para tingir tecidos e ainda são encontradas pilhas das cascas dos moluscos em alguns sítios históricos na costa grega. A secreção do molusco está contida dentro de uma pequena veia ou cisto que, quando quebrada ou partida pela mão, secreta um fluido branco. Os tecidos são bahnados neste fluido branco e postos a secar ao sol que "revela" a tintura púrpura brilhante . Os diferentes tons dependem do tipo de molusco e o tipo de exração do fluido branco.

Segundo Plínio, o melhor pigmento era extraído na Tíria, e era a cor utilizada nas vestes reais romanas, cor que até os dias hoje simboliza realeza. Esta cor parou definitivamente de ser usada e extraída segundo as técnicas antigas no século 7.

Sepia: secreção preta ou marrom-escura tirada da bolsa de tinta de polvos ou lulas.

Laca Indiana: Tintura vermelha orgânica natural derivada de uma secreção resinosa da larva do inseto Coccus lacca que vive em certas árvores da espécie Croton ficus na Índia, Birmânia e outros países do Oriente. Também utilizada como verniz quando processada de forma alternativa, produzindo o popular "shellac", verniz de uso muito popular na pintura a óleo.

Pau-Brasil: A tintura pau-brasil na Idade Média vinha do Ceilão e já tinha esse nome muito antes do portugueses descrobrirem a terra que mais tarde seria chamada de Brasil. A espécie de pau-brasil chamada Pernambuco, que vinha da Jamaica, tinha o dobro da quantidade de tinta do que outras espécies. O extrato do pigmento é obtido com o cozimento das lascas de madeira em água fervente e através da concentração do pigmento no vácuo. O PAu-Brasil foi amplamente usado na Idade média para todos os fins, desde iluminuras de manuscritos a vestuário mas foi substituída por cores sintéticas mais brilhantes ainda no século 17.


Fonte: Sellerink, Book of Hours

Até mais!

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